A história de amor que poderia ser apenas como as outras, com casamento, chuva de arroz, noivos felizes e muitos amigos para comemorar. O casamento de Kenia Jéssica Yamanaka e Luiz Henrique Zani Gongora, hoje, às 17h30, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, em Maringá, é muito mais que isso.
Os noivos são deficientes auditivos e o casamento sela uma história que começou no ensino maternal, na Associação Norte Paranaense de Áudio Comunicação Infantil (Anpacin), o Colégio de Surdos.
Ela é a única dentista com surdez profunda no Brasil. Ele é bancário. Os dois, ambos com 26 anos, conheceram-se quando começaram os estudos na Anpacin, aos dois anos de idade.
Kenia, filha de Ivone e Nelson Yamanaka, nasceu em Guaíra, no oeste do Paraná. Quando os pais descobriram que ela era surda, mudaram-se para Maringá em busca de escola especializada e recursos como terapia com fonoaudiólogo, próteses auditivas entre outros.
“A surdez não foi empecilho para que ambos conseguissem concluir o ensino superior e tivessem oportunidade no mercado de trabalho”, diz Ivone.
A filha se formou em Odontologia no Cesumar e se especializou na área de pacientes com necessidades especiais em Campinas (SP). Atualmente, é dentista concursada da Secretaria Municipal de Saúde de Toledo (PR), cidade onde residirá com o marido após o casamento.
Luiz Henrique, filho de Itamar Zani Gongora e Antônio Gongora Neto, nasceu em Paraíso do Norte (PR) e sua família também veio para Maringá em busca de recursos específicos para surdos. O destino fez com que fosse matriculado na Anpacin, onde conheceu a futura esposa. Assim como Kenia, ele se formou no Cesumar, em Sistema para Internet Web Design. Atualmente, trabalha no Banco Sicredi de Maringá.
O casamento será celebrado pelo padre Wilson Czaia, também surdo, que vem de Curitiba especialmente para o enlace. A cerimônia será ministrada em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para aproximadamente 400 convidados.
Mas haverá também a interpretação sonora da cerimônia por quatro pessoas que farão a tradução verbal para para os convidados que não dominam a linguagem de sinais. Os convidados surdos poderão acompanhar o ato por meio de um telão instalado próximo ao altar.
Para a intérprete de Libras da Pastoral do Surdos, Eliane Braga de Oliveira Crispim, o evento é diferente e motivador para outros portadores de surdez e seus familiares. “Claro que eles (os noivos) tiveram que vencer barreiras, poucas pessoas entendem a linguagem de sinais para se comunicar. Mas todos nós temos que vencer barreiras, talvez para eles tenha sido um pouco mais difícil”, diz Eliane, que será uma das intérpretes da cerimônia.
Por Vanda Munhoz
O diario.com cidade: Maringá
Pedagoga com habilitação em Educação de Deficientes da Audio-comunicação. Psicopedagoga e professora de surdos.
Apaixonada por tecnologia assistiva e mídias sociais. Sonhadora, acredita na inclusão, no respeito as diferenças e no direito a igualdade. Viu muita coisa mudar desde que se formou, mas sabe que tem muita coisa a ser feita.
Viajante, mãe da Giulia, chocólatra e adora tomar cafés com ela mesma ou com amigos.