Um professor da rede estadual de São Paulo começou neste semestre um cursinho pré-vestibular gratuito voltado exclusivamente para preparar estudantes surdos para o Exame Nacional do Ensino Médio (
Enem) e a Fuvest. As aulas são realizadas aos sábados em uma escola estadual da Vila Matilde, na Zona Leste da Capital.
Rafael Dias Silva, professor de biologia, química e física, diz que pretende oferecer aos alunos a oportunidade de aprenderem diretamente na sua língua materna, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e não por meio de interlocutores ou intérpretes de professores que dominam apenas o português.
Aulas gratuitas e professores surdos
O professor diz que o curso aumenta a facilidade do ensino do conteúdo do vestibular para os estudantes surdos. “Você garante maior clareza por estar na língua deles”, afirmou. Uma das principais defasagens dos alunos, segundo ele, é justamente a produção de texto e a língua portuguesa.
Além de ajudar nos estudos, ele diz que o objetivo é também dar ao grupo maior contato com todo o processo da realização de provas com as da Fuvest e do Enem, que eles não têm costume de fazer e, por isso, acabam ficando em desvantagem em relação aos demais candidatos. “Falta preparo desse aluno, dar conhecimentos prévios para na hora da prova ele fazer leitura e compreensão daquilo que está sendo solicitado. E é importante melhorar a auto-estima desses meninos, que muitas vezes ficam perdidos”, explicou.
O curso é grátis para os alunos e é financiado pela empresa Libras na Ciência, que Rafael mantém em uma incubadora do campus na Zona Leste da Universidade de São Paulo (USP). As aulas são realizadas na Escola Estadual Dom João Maria Ogno aos sábados, como parte do programa Escola da Família.
Dois dos docentes também são surdos. “É importante eles terem um professor surdo que conseguiu vencer obstáculos e está lá na ponta. Fiz questão de chamar colegas”, explicou o professor. “Eles não têm heróis, não têm ninguém em quem se espelhar.”
Atendimento especial no Enem
Apesar do crescimento de alunos surdos inscritos no Enem 2014, em relação a 2013, a quantidade absoluta ainda é pequena: a variação foi de 2.460 para 3.330, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Segundo o relatório pedagógico das edições de 2009 e 2010, divulgado pelo Inep no início do mês, 2.850 surdos ou deficientes auditivos fizeram as provas em 2009, número que caiu para 2.098 no ano seguinte. Na nota técnica sobre o atendimento diferenciado do Enem, o Inep afirma que, durante a prova, o tradutor-intérprete de Libras “não se limita a traduzir as comunicações orais, mas deve auxiliar na compreensão dos textos escritos”.
Assim como os demais candidatos com atendimento especializado, os estudantes surdos podem solicitar até 60 minutos a mais para fazer as provas nos dois dias do Enem.
No último Enem, seis estudantes de Curitiba que têm deficiência auditiva conseguiram na Justiça Federal conseguiram na Justiça Federal o direito de refazer as provas. Eles afirmaram que foram prejudicados porque, segundo os estudantes, os interpretes de Libras, que acompanharam a realização da prova, não traduziram enunciados e respostas. Apenas foram repassadas orientações quanto à realização do exame, como a cor de caneta que deveria ser usada.
Pedagoga com habilitação em Educação de Deficientes da Audio-comunicação. Psicopedagoga e professora de surdos.
Apaixonada por tecnologia assistiva e mídias sociais. Sonhadora, acredita na inclusão, no respeito as diferenças e no direito a igualdade. Viu muita coisa mudar desde que se formou, mas sabe que tem muita coisa a ser feita.
Viajante, mãe da Giulia, chocólatra e adora tomar cafés com ela mesma ou com amigos.